
Histórias de um tempo passado
Lembro como se fosse um sonho quando, ainda menino, eu experimentava as flores de abobrinha de Tio Amerigo, um amigo de meu pai, proprietário de um pequeno negócio de frutas e verduras no bairro Trastévere, em Roma.
Tio Amerigo era um homem grande e corpulento, de fisionomia boa. Apaixonado por boxe, tinha tentado em idade jovem a carreira de lutador, dedicando-se com muita paixão. Para ver sua primeira luta oficial, quando tinha apenas 16 anos, foram todos os familiares, inclusive a avó, a bisavó, alguns tios e todas as oito irmãs. Fizeram uma torcida sem precedentes assim que Amerigo subiu no ringue, mas foi grande a decepção quando, ao primeiro soco, o parente deles caiu no chão e acordou apenas no hospital, duas horas mais tarde.
Foi sua primeira e única luta; daquele dia em diante, sua vida profissional tornou-se cheia de maçãs, peras, laranjas, alface, cebola e… abobrinhas, na pequena banca de frutas do pai, que depois herdou, quando ele morreu.
Suas flores fritas eram fantásticas. Preparava uma massa com duas colheres de farinha, uma pitada de sal e um ovo, derramando pequena quantidade de água

mineral sobre esta para tornar mais cremosa. Lavava as flores de abobrinha, com grandes pétalas verdes e pontas amarelas, enchia-as de anchovas e pedaços de queijo mussarela velho.
Os segredos das flores de Tio Amerigo eram dois: a água mineral precisava ser gelada, para tornar a fritura crocante, e o queijo mussarela precisava ser velho, para evitar que, durante o cozimento, saísse leite para fora.
Lembro aos leitores que o queijo mussarela autêntico, aquele vendido na Itália, não é constituído por fatias de queijo fundido normalmente vendido no Brasil, mas é um queijo fresco, mole e aquoso.
Depois de encher as flores fechando-lhes bem as pontas, Tio Amerigo as mergulhava na massa e as colocava para fritar no azeite quente, até que se tornassem crocantes. Para serem comidas ainda quentes, apreciando o fundo de anchovas, determinantes para uma perfeita receita de flores de abobrinhas fritas à romana.
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Tio Amerigo viveu por muitos anos sozinho. Depois conheceu Assunta, uma costureira meiga como um pão, com a qual foi viver, contra a vontade dos familiares. Depois de alguns anos de convivência já na casa dos 60 anos de vida, numa noite “romântica” sentados diante da TV, Assunta propôs ao companheiro de sua vida: “Amerigo, já passou tanto tempo, não pensas que chegou o momento de nos casarmos?” E Amerigo respondeu: “Assunta, tens perfeita razão, mas em nossa idade quem se casaria conosco?”
Leia também: a receita passo a passo das flores de abobrinha fritas e a Cozinha hebraica em Roma
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